Inconstância ou Crescimento?

-------------------------------------------------------------------------------- Qual é o nosso movimento? "O homem de coração dobre é inconstante em todos os seus caminhos" (Tg.1). Muitas pessoas são instáveis, indecisas. Não têm alvos determinados nem sabem o que querem. A cada dia correm atrás de um propósito diferente. Aliás, propósito não é a melhor palavra nesse caso. Estão, hoje, em busca de algo que será esquecido amanhã. O inconstante não tem visão de futuro. Pensa apenas nas necessidades imediatas. A inconstância pode ser observada em pequenas coisas, mas é muito prejudicial quando afeta aspectos importantes da vida, como as questões profissionais. Quantos jovens vivem na indefinição quanto à sua área de trabalho! Sabemos que, em muitos casos, a situação fica difícil e o desempregado aceita a primeira oportunidade que aparece. Entretanto, é preciso que cada pessoa escolha uma profissão e procure se especializar nela. Não podemos fazer "de tudo um pouco". O generalista pode acabar perdendo todas as oportunidades para os especialistas. Viver mudando de emprego, com pouco tempo de permanência em cada um, pode ser também um problema. É preciso definir, escolher bem e permanecer. O resultado será o conhecimento, o domínio e o crescimento. A planta que vive sendo trocada de lugar, sem que possa criar raízes profundas, não produzirá frutos e poderá morrer antes do tempo. A vida sentimental é outro setor em que a inconstância se manifesta, e isso caracteriza mais os homens do que as mulheres. É uma namorada aqui, outra ali, uma hoje, outra amanhã, e assim vai. No âmbito da espiritualidade, algumas pessoas são ecumênicas. Frequentam a igreja, mas vão também ao centro espírita. Leem a Bíblia e consultam o horóscopo. Quem coloca um pé no barco e mantém o outro em terra firme acaba caindo na água. Na época de Elias, o povo de Israel queria servir a Deus e a Baal. Então, o profeta lhes disse: "Até quando coxeareis entre dois pensamentos? Se o Senhor é Deus, segui-o; mas se Baal, segui-o." (I Rs.18.21). Era preciso decidir. Em outro contexto, Josué também advertiu o povo com essas palavras: "Escolhei hoje a quem haveis de servir; se aos deuses a quem serviram vossos pais, que estavam além do rio, ou aos deuses dos amorreus, em cuja terra habitais. Porém eu e a minha casa serviremos ao Senhor." (Js.24.15). Jesus deseja que sejamos seus seguidores, decididos e persistentes, a despeito das dificuldades. Ele disse aos seus discípulos: "Eu sou a videira; vós sois os ramos. Quem permanece em mim e eu nele, esse dá muito fruto" (João 15.5). Concluímos que a inconstância é uma praga. Logo, podemos dizer que a perseverança e a estabilidade são positivas? Talvez. Sejamos decididos e perseverantes, mas a grande pergunta é: perseverantes em quê e por quanto tempo? A TEIMOSIA Muitos são perseverantes na prática do mal. Percebemos isso nas palavras de Paulo: "Permaneceremos no pecado para que a graça abunde? De modo nenhum" (Rm.6.1-2). O apóstolo não permaneceria no pecado, mas muitos permanecem. Quantas pessoas são teimosas como um burro empacado! Não ouvem conselhos nem aceitam advertências. Enquanto não se arrebentam, não aprendem. Salomão escreveu: "Não te apresses a sair da presença do rei, nem persistas em alguma coisa má" (Ec.8.3). Nesse caso, a perseverança torna-se negativa. Desistir é o melhor a se fazer. Arrepender-se do mal não é sinal de fraqueza, mas de crescimento. A PARALISIA Há um tipo de perseverança que consiste na permanência em um lugar bom, na prática do bem, mas até isto pode ser prejudicial. É a insistência em coisas boas, porém medíocres ou primárias. O bebê não pode ficar para sempre no útero. E, depois que nasce, não pode parar em nenhum estágio do seu desenvolvimento. Na vida profissional, passar 40 anos no mesmo emprego pode ser excelente ou péssimo. Depende do emprego. Se o indivíduo passou sua vida em uma posição, quando poderia ter galgado outras melhores, sua perseverança pode ter sido defeito e não qualidade. A estabilidade, tão desejada e importante, pode ser também sinônimo de estagnação. Antes de subir ao céu, Jesus disse aos discípulos: "Permanecei, pois, na cidade de Jerusalém, até que do alto sejais revestidos de poder" (Lc.24.49). No primeiro momento, eles não deveriam ausentar-se da cidade. Entretanto, não poderiam viver lá para sempre. O limite entre uma e outra atitude encontra-se na palavra "até". Quando o dom se manifestasse, este seria o sinal de que um trabalho maior poderia e precisava ser feito. Era preciso avançar, crescer, progredir. Nós também não podemos parar, seja na vida material ou espiritual. Inconstância é ruim e perseverança nem sempre é boa. Afinal, qual será o procedimento ideal? Não podemos criar uma regra. Cada situação deverá ser analisada sob oração e com a sabedoria que vem de Deus, de modo que possamos identificar o nosso "até". Como os israelitas no deserto que, vendo a nuvem se erguer, desmontavam o acampamento para seguirem em sua jornada, possamos ser sensíveis ao mover do Espírito, não ficando para trás (Ex.40.36). Cresçamos, alargando as nossas fronteiras, sabendo, porém, que alguns compromissos devem ser irrevogáveis. Muitas coisas podem e precisam mudar em nossas vidas, mas o essencial deve permanecer, de acordo com os princípios estabelecidos pela palavra de Deus. Mudamos os passos, mas mantemos o rumo. O inconstante é um viajante sem direção. O negligente e o conformado ficam parados no meio do caminho certo. Pedimos ao Senhor que nos oriente e ajude em nossa caminhada, de modo que não a transformemos em estacionamento. Que a nossa viagem não acabe numa estação qualquer no meio da estrada. Prossigamos para o alvo. Não podemos parar de crescer, enquanto não alcançarmos a perfeita varonilidade, conforme a estatura de Cristo. "Para que não mais sejamos meninos, inconstantes, levados ao redor por todo vento de doutrina, pela fraudulência dos homens, pela astúcia tendente à maquinação do erro; antes, seguindo a verdade em amor, cresçamos em tudo naquele que é a cabeça, Cristo" (Ef.4.14-15). Prof. Anísio Renato de Andrade